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sábado, 20 de junho de 2015

Engenheiros do Hawaii - "Ouça O Que Eu Digo: Não Ouça Ninguém" (1988)



"As coisas mudam de nome,
mas continuam sendo religiões"
frase da música "Além dos Outdoors"
do disco "A Revolta dos Dândis", 
contida no encarte do disco 
"Ouça O Que Eu Digo Não Ouça Ninguém"



"Uma vez eu ouvi, não lembro onde, Humberto Gessinger, líder e cabeça pensante dos Engenheiros do Hawaii, dizendo que os discos gêmeos “A Revolta dos Dândis” e “Ouça o Que Eu Digo: Não Ouça Ninguém” eram sobre comunicação. Bom, acho que é verdade e não é. Efetivamente o são com seus outdoors,comerciaisvozes oficiais, seus livros e revistas mostrando imagens sem nitidez,infelizes infartados de informação e televisões e rádios sendo jogados pelas janelas, mas junto com isso trazem também dilemas pessoais, paixões mal-resolvidas, dúvidas existenciais, conflitos ideológicos e mais uma série de outros assuntos que se não constituem um centro temático, por certo em algum momento encontram o tema que, segundo o principal compositor da banda norteia a obra."

Assim abri, há algum tempo atrás, minha resenha nesta mesma seção de ÁLBUNS FUNDAMENTAIS falando sobre o disco "A Revolta dos Dândis" da banda gaúcha Engenheiros do Hawaii, mas o mesmo parágrafo cabe muito bem para introduzir seu sucessor, "Ouça O Que Eu Digo: Não Ouça Ninguém" (1988), que poderia, sem problema algum, ter sido o segundo disco de um álbum duplo, hipótese que nem sei se chegou a ser imaginada em algum momento, mas que acabou sendo o seguinte, quase que uma extensão do anterior e uma obra-prima do rock nacional. 
A começar pela capa, uma variação em vermelho, praticamente igual à do predecessor, "Ouça O Que Eu Digo: Não Ouça Ninguém", praticamente se confunde com "A Revolta dos Dândis" nas temáticas, nas autorreferências, em versos e riffs reutilizados de um para o outro ou em outras pequenas sutilezas. Exemplos? O retorno ao tema do crescimento e da maturidade de "Terra de Gigantes" em "Somos quem Podemos Ser", um dos grandes sucessos do disco ; o riff inicial de "Vozes" utilizado como introdução de "A Verdade a Ver Navios"; "Desde Aquele Dia" servindo de resposta à pergunta "Desde Quando"; a frese do encarte, destacada acima, de uma música do disco anterior; a irracionalidade da guerra abordada em "Filmes de Guerra, Canções de Amor", agora presente em "Cidade em Chamas"; e referência à "Infinita Highway" na genial "Variações de Um Mesmo Tema", música de batida pesada, marcada, ar dramático e letra mordaz, cujo epílogo, viajante, meio progressivo, cantado por Augustinho Licks, fecha o disco forma monumental. Licks que, a propósito, muito mais integrado e à vontade do que no disco anterior, no qual estreava na condição de guitarrista, garante neste mais qualidade e peso nas guitarras e por muitas vezes um toque um pouco mais hard-rock em grande parte das canções.
A excelente "Tribos e Tribunais",com sua introdução punk acelerada e a ótima letra de Gessinger; o rock de "Sob o Tapete"; "Quem Diria?" que lembra as composições mais remotas da banda, lá, do primeiro disco, "Longe Demais das Capitais"; e a belíssima "Nunca Se Sabe", merecem destaques especiais neste disco que é simplesmente um dos melhores da safra nacional dos anos 80 e um dos grandes da discografia nacional.
"Ouça o Que Eu Digo Não Ouça Ninguém", com "A Revolta dos Dândis" e "Várias Variáveis" compõe um das trilogias mais importantes, significativas e inteligentes da música brasileira mas cuja importância nunca foi totalmente reconhecida. Talvez pelo fato de, apesar de ter alcançado sucesso mesmo no centro do país, os Engenheiros do Hawaii serem uma banda gaúcha e sofrerem, sim, uma certa resistência. Em parte também, pelo fato de Humberto Gessinger, seu vocalista e principal letrista ser considerado ainda hoje, por muitos pedante e pretensioso, por suas ambições floydianas, citações literárias e inserções filosóficas. Até reconheço que existam, que às vezes exagere um pouco, mas não tenho dúvda que e melhor algo assim do que a pobreza musical e intelectual que anda por aí hoje em dia. Não é à toa que não temos mais um rock nacional.

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FAIXAS:
1. "Ouça o que Eu Digo: Não Ouça Ninguém" - Humberto Gessinger (3:04)
2. "Cidade em Chamas" -  Humberto Gessinger (3:17)
3. "Somos Quem Podemos Ser" - Humberto Gessinger (2:40)
4. "Sob o Tapete" -  Humberto Gessinger; Augusto Licks (3:21)
5. "Desde Quando?" - Humberto Gessinger (2:28)
6. "Nunca Se Sabe" - Humberto Gessinger (3:12)
7. "A Verdade a Ver Navios" - Humberto Gessinger (3:03)
8. "Tribos e Tribunais" - Humberto Gessinger; Augusto Licks (3:43)
9. "Pra Entender" - Humberto Gessinger (2:51)
10. "Quem Diria?" - Humberto Gessinger (3:10)
11. "Variações Sobre Um Mesmo Tema" - Humberto Gessinger; Augusto Licks (5:18)


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Ouça:



Cly Reis


2 comentários:

  1. O letrista é simplesmente notável em seus atributos,setores da imprensa gostam de pegar no pé de certos artistas.

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