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segunda-feira, 1 de junho de 2015

cotidianas #372 - A Carta ou “Você é inocente quando dorme”: a leitura alternativa de uma tragédia em 10 atos




Em 7 de abril de 2011, ocorreu na cidade do Rio de Janeiro o Massacre de Realengo, bairro da zona oeste da cidade. Na trágica ocasião, Wellington Menezes de Oliveira, 23 anos, invadiu a escola Tasso da Silveira, onde foi aluno, e disparou tiros contra crianças e adolescentes com idades de 12 a 15 anos, matando 12 delas e ferindo outras 12, até ser contido por um policial e se suicidar em seguida.

1. Sala de aula, manhã. A professora fala aos alunos da importância de as crianças serem crianças no Brasil. Alunos prestam atenção. Um menino, parecendo distraído, escreve em seu caderno uma frase que a professora sempre falava nos primeiros dias de aula: “Você é inocente quando dorme”.

2. Quarto, noite. No quarto todo bagunçado e cheio de lixo, Wellington está sentado à sua escrivaninha tomada de cupim. Escreve a mão uma carta.

3. Entrada da escola, manhã. Wellington entra pelo portão da escola. Cumprimenta dois funcionários aos quais conhecia. Sobe as escadas que dão para o 1º andar. Na porta da sala de aula, fecha os olhos lenta e concentradamente, como que rezando. Ouve-se o som da arma engatilhando.

4. Calçada, manhã. Policial faz a vigília rotineira. Ouve gemidos e olha para o lado, quando vê um menino ferido se aproximando. Avisa pelo rádio a policia e corre em direção à escola.

5. Calçada, manhã. Wellington passa pela rua. Cruza com o policial. Entreolham-se rapidamente.  Wellington entra pelo portão da escola.

6. Saguão da escola, manhã. Um dos funcionários que cumprimentou Wellington ouve tiros. Gritaria, pavor. Ele congela onde está, arregalado. Vê um aluno saindo ferido. Mais disparos. Outros vêm em seguida correndo, apavorados. Vê sangue, muito sangue, mas não consegue distinguir dentre a confusão quem também estivesse ferido. Sem reação, olha para um policial que vem correndo na direção contrária. Este sobe as escadas. Ouve-se troca de tiros.

7. Corredor da escola. Wellington morto.

8. Sala de aula. Alunos mortos.

9. Rua, vista superior, final da manhã. Famílias comovidas. Policiais trabalhando. Médicos atendendo. IML recolhendo. Sirenes soando. Imprensa cobrindo. Carros, multidão.


10. Quarto, noite. Wellington conclui a redação da carta. Num trecho, diz: “Jesus me desperte do sono da morte para a vida”.



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