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sexta-feira, 22 de maio de 2015

cotidianas #370 - Sinal Vermelho


Passou por um carro vermelho. Agora já não estava mais muito longe de casa. Mais alguns quarteirões e poderia relaxar depois de um dia tumultuado.
Andou mais alguns quilômetros e, por coincidência, outro carro vermelho muito parecido com o que acabara de ultrapassar, surgia à sua frente. Apenas achou curioso, afinal havia tantos carros vermelhos daquela marca por aí. O ultrapassou também e seguiu em frente. Uma esquina, um semáforo, à direita, direita de novo. Mais uns 10 minutos se o trânsito continuasse bom. Mas agora já era demais: um carro vermelho exatamente igual aparecia à sua frente de novo. E agora estava quase certo de ser o mesmo. Mas era impossível, não podia tê-lo ultrapassado. Até porque das vezes que cruzara com o veículo o mesmo transitava em velocidade mínima, até, a propósito, atrapalhando os demais. Quis crer que fosse nova coincidência mas desta vez em menos tempo do que das anteriores, depois de ultrapassá-lo o misterioso automóvel voltava a surgir diante de sua vista. O que estava acontecendo ali??? Alguma brincadeira? Mas de quem? Seria mesmo o mesmo carro? Desta vez quis certificar-se; notou em todos os detalhes possíveis; um amassado, um arranhão, uma sujeira... Tentou olhar o motorista desta vez mas o vidro era muito escuro. Observou um pequeno adesivo na parte traseira, um símbolo indecifrável, uma espécie de mandala com uma forma simétrica, de quatro pontas ao centro, e tomou aquilo por sua pista para comprovação. Estava a, não mais que três quadras de casa, quando comprovou sua suspeita. À sua frente reaparecia o carro vermelho com o estranho adesivo. Como era possível? Já o havia ultrapassado um tanto de vezes, o deixara para trás e ele não surgia vindo de uma esquina, não passara por ele rasgando o asfalto, não! Não tinha como estar à sua frente. Entrou numa espécie de pequeno estado de pânico. Acelerou. Livraria-se daquele “perseguidor”, se é que podia chamar assim. Correu, ultrapassou, cruzou vários sinais fechados mas em um cruzamento perigoso teve que parar no sinal vermelho. Mal parou, viu aproximar-se lentamente e parar ao lado de seu carro o veículo misterioso. Tremeu não sabia se de medo e de ansiedade. Então o vidro do carro ao lado foi baixando lentamente e o rosto magro de um homem de meia idade, grisalho, de feições secas apareceu. Dirigiu-se então, entre as janelas dos carros ao motorista apavorado:
- Perdido, amigo?
O outro, assustado, hesitou um pouco, mas respondeu:
- Não, não. Estou indo pra casa. - disse forçando um sorriso ao final da frase como que para demonstrar tranquilidade.
O outro, no carro vizinho, lançou, por sua vez, um sorriso enigmático e observou:
- Eu acho que não.
Verde.
O misterioso carro vermelho pôs-se em movimento e perdeu-se na noite da cidade. O outro, permaneceu ali parado no cruzamento. Permaneceu. O sinal fechou novamente.

O carro continuou ali parado.

Cly Reis

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