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domingo, 4 de janeiro de 2015

Marina Lima - "Marina Lima" (1991)


"Será que você será
a dama que me completa?
Será que você será o homem,
não estou bem certa."
trecho de "Não Estou Bem Certa"




Marina acrescentava o sobrenome Lima ao nome artístico e pela primeira vez o emprestava, agora completo, para batizar um álbum. Não era à toa. Em “Marina Lima”, de 1991, a cantora era mais ela do que nunca. Ao mesmo tempo que atingia seu melhor momento artístico, com um pop mais coeso, mais completo, bem produzido, Marina passava por um momento de questionamentos, de autodescoberta, de auto-revelação e por fim de auto-afirmação. Assim, nada melhor do que afirmar para si mesma e para todo mundo “Esta aqui é Marina Lima e este álbum sou eu.”
Marina, assim como Renato Russo o fizera em determinado momento, reconhecia que gostava de meninos e meninos, e resolvia então externar isso através da sua arte. Não que já não tivesse dado pistas em outros momentos mas em "Marina Lima", era a primeira vez que o fazia tão direta e abertamente. Trechos como "procurar Ricardos em Solanges nunca me fez mal" ou“tudo o que eu pensei ser pra sempre eu já não sei se é mais/ penso na menina e fico atenta aos braços do rapaz”, de “Não Estou Bem Certa”, são muito emblemáticos quanto ao conflito interior que se configura, bem como vários outros versos espalhados pelo álbum, em grande parte dedicado a esta (re)descoberta, ora como reafirmação, ora como dúvida.
Não por acaso, “Ela e Eu”, de Caetano Veloso conhecida até então na interpretação notável de Maria Bethânia, é escolhida para abrir o disco, uma vez que já sugere a mudança e o novo momento da cantora. Cantada à capela com uma interpretação belíssima de Marina Lima, “Ela e Eu” além de dar o recado inicial, funciona quase como uma vinheta de abertura do álbum, praticamente entrelaçando-se com a ensolarada “Grávida”, canção pop leve, gostosa, sobre extrapolar, manifestar-se, pôr tudo para fora da maneira que se achar melhor. Com letra de Arnaldo Antunes, “Grávida” pode-se dizer, de certa forma, é uma espécie de “Saia de Mim” dos Titãs, só que sem toda aquela agressividade.
O adorável pop “Criança”, também sobre descobertas, com sua batida eletrônica e ritmo funkeado muito convidativo tem a marca da qualidade da produção de Liminha num dos melhores momentos do álbum; “Acontecimentos”, outra das boas do disco, um pouco mais lenta, é uma canção de amor característica da carreira de Marina e da parceria com o irmão poeta e letrista Antônio Cícero; e a ótima “Pode Ser o Que For”, de ritmo acelerado, vibrante, pulsante é otimista, corajosa e pra frente.
As baladas ficam por conta da delicada “O Meu Sim” e da triste “Não Sei Dançar”, onde Marina acompanhada apenas pelo teclado, canta alguns dos versos mais arrasados da música brasileira, como “às vezes eu quero chorar mas o dia nasce e eu esqueço” e “e tudo o que eu posso te dar é solidão com vista pro mar”.
“Serei Feliz” é aquele típico final digno: um a boa canção, nada mais que isso, mas que por sua vez não compromete em nada. O ponto negativo fica por conta da péssima “E Acho Que Não Sou Só Eu”, música com cara de improvisação de estúdio num momento de infeliz inspiração momentânea registrado. Com uma programação pobre, uma levada tosca de guitarra e uma letra, parece, inventada na hora, a música soa como uma infeliz colcha de retalhos de elementos de outras faixas do disco. Também não é suficiente para desvalorizar o belo álbum de Marina Lima, mas certamente era desnecessária.
O interessante de “Marina Lima”, o álbum, é que se marcava efetivamente a melhor fase artística da cantora, aquele momento acabaria por não ter uma longa duração. Mesmo tendo lançado em seguida com algum sucesso o bom "O Chamado" e depois o interessante porém irregular “[Abrigo]”, sua voz, problemas físicos e emocionais fariam com que a carreira ficasse um tanto comprometida assim como seus trabalhos seguintes dali para a frente. Até por isso, “Marina Lima”, além de um dos melhores álbuns dos anos 90 no Brasil, passa a ser um registro importante como, possivelmente, o último trabalho em que Marina apresentou-se na sua plenitude.
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FAIXAS:
1. "Ela e Eu" 
2. "Grávida"
3. "Criança"

4. "Não Estou Bem Certa"
5. "O Meu Sim"
6. "Acontecimentos"
7. "E Acho que Não Sou só Eu"
8. "Pode Ser o Que For"
9. "Não Sei Dançar"
10. "Serei Feliz"

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Ouça:


Cly Reis

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