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quinta-feira, 9 de outubro de 2014

cotidianas #327 - O Mate (Chimarrão), de Cortázar a Senhor dos Anéis


Os Quechuas chamavam de "mati" a infusão feita de folhas para beber proveniente de uma planta. Os Guaranis atribuíam esta erva à lenda da jovem "la Caá Yarí", mas nos primeiros séculos às autoridades religiosas espanholas catequizadoras diziam que o mate era coisa do diabo que "fomentava o ócio e contaminava a todos, não sendo bom para saúde da alma e do corpo". Mesmo assim, Julio Cortázar ao escrever não dispensava um bom mate, e pra onde quer que fosse levava sua cuia de "louça" e uma "yerbita buena", até o dia que ficou "puto" quando viu a mesma faltar em Paris. Este é um dos contos preferidos do amigo escritor José Francisco Botelho, amante do mate.
Julio Cortázar
Sabato e Perón, entre rodadas de mate e uma "amizade" abalada, se entreolhavam pra ver quem daria primeiro os pêsames pela morte de seus entes queridos. Perón tinha perdido Evita e Sabato três familiares. Artigas gostava de matear com a gauchada e seus "perros" Cimarrones na beira do fogo. Brizola mateou com Che Guevarra, que mateou com o Presidente Haedo. Entre as alfinetadas políticas de Haedo, uma cuia de mate pra acalmar os ânimos. Na selva boliviana, entre os pertences capturados com "El Che", uma pequena cuia com mate "virado" várias vezes.
Na fronteira do Rio Grande do Sul, o ator Richard Gere provou o mate, mas não gostou. Preferiu um tal pão "cacetinho". No set de "O Senhor dos Anéis", o ator americano Viggo Mortersen (Aragorn) levava sempre sua cuia e uma térmica (termo), e fez grande parte do elenco provar a bebida, recebeu um "thanks" da maioria, mas no fim conseguiu um parceiro, Sir "Gandalf" Ian McKellen, que sorveu e aprovou. Viggo morou na Argentina e pegou lá o costume e, por último, mateou até com o Papa Francisco no Vaticano.
O Uruguai é hoje maior consumidor de erva mate do mundo, seguido da Argentina. No Rio Grande do Sul, é chamado de "chimarrão" no norte e centro do Estado, e "mate" na fronteira com Uruguai e Argentina pela influência do espanhol. Entre conflitos seculares o mate também está presente nos costumes do Líbano e da Síria. Levado por imigrantes libaneses da Argentina, lá a infusão recebe o nome de "yer-bah mah-tay" e tem seu consumo ligado às tradições das famílias. Não lembro a primeira vez que tomei o mate, mas lembro de muitos amigos e pessoas que conheci por causa dele. Nenhuma outra bebida no mundo é capaz de agregar, unificar e “hermanar” tanto como "El Matecito", que é universal. A propósito, vou tomar o meu agora.

por Francisco Bino




Francisco Bino é Especialista em Vinhos e Viticultura, mas possui uma Confraria de Cerveja Artesanal. Cinéfilo, fã de cinema anos 70 e folclore sul-americano, ama cultura pop, é colecionador de discos dos Beatles e filmes clássicos. É apresentador do evento Underrock and Beer, na Serra Gaúcha, a única harmonização de cervejas artesanais com cenas clássicas do cinema. Também escreve e possui grupos de cinema no facebook.

2 comentários:

  1. Que barato, Francisco! Adorei teu texto.
    Deu até vontade de tomar um chimas.
    Abraço e obrigado pela colaboração.

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  2. Parabéns querido! Muito bom o teu texto! Bjs

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